Biblioteca Particular parte VI
Lote 67:
O lote foi removido do leilão
MANUSCRITO – s.d. [s.XVI?] – [DOMENECH (Pero)].
[FUNDAÇÃO dos Colégios dos Meninos Órfãos]. s.l. [Lisboa?]: s.n., s.d..
Manuscrito sobre pergaminho, 50 fólios, numerados, erros de numeração, alguns desenhos alegóricos, 385 mm. Encadernação com lombada em chagrin do século XIX; títulos a ouro na lombada; corte das folhas carminado; ligeira acidez; manuscrito totalmente legível; alguns sublinhados a carvão de cor azul.
EXTRAORDINÁRIO E IMPORTANTE MANUSCRITO INÉDITO com a história, regimentos e doutrina relativa ao Colégio dos Meninos Órfãos criado por D. João III em 1549 e dirigido pelos padres e irmãos da Companhia de Jesus. A partir de uma primeira e breve análise do manuscrito, por várias vezes é usado a primeira pessoa do singular ao descrever os acontecimentos narrados, pelo que é provável que o texto tenha sido redigido pelo Padre Pero Doménech, o primeiro reitor do Colégio dos Meninos Órfãos, e mandado copiar por um escrivão. Ademais, possui o manuscrito uma nota que dá conta que as normas contidas neste manuscrito vigoraram durante 66 anos, até 1615. De facto, D. Filipe II mandou redigir um novo Regimento para o Colégio dos Órfãos em 1615, tal como consta do manuscrito existente na Biblioteca Nacional e referido em várias obras consultadas sobre o assunto (cf. RODRIGUES, p. 703, nota 1). Trata-se, muito provavelmente, do manuscrito original que contém o primeiro regimento do Colégio dos Órfãos e que permanece inédito dos estudiosos sobre o assunto, pois quer Serafim Leite, quer Francisco Rodrigues apenas referem ter existido uma regra anterior, nada indicando sobre o seu conhecimento. Por outro lado, as referências cronológicas do texto – com excepção da nota manuscrita acrescentada a que já fizemos referência e que claramente foi adicionada posteriormente – não vão além de 1553, ano em que, por indicação de S. Inácio de Loiola, os jesuítas abandonam o encargo dos colégios sendo os de Portugal entregues a António Pinheiro. Este facto indicia mais uma vez a atribuição da autoria do texto ao Pe. Pero Doménech, ao mesmo tempo que ajuda a determinar um intervalo de possível datação entre 1553 e 1615, sendo mais provável que ele tenha sido composto ou pouco antes da saída do Pe. Pero Doménech ou pouco depois, como forma de fazer perdurar o seu legado. Seja como for, estamos perante um manuscrito único sobre um tema com relevância para a missionação e colonização portuguesa, especialmente no Brasil, onde os Padres Jesuítas tiveram um papel fundamental. Escreve Serafim Leite: "Para começar a transpor as trincheiras da barbaria e da língua inventou-se, entre outros, um meio. Iriam de Lisboa crianças. Misturadas as crianças portuguesas com as crianças indígenas, operar-se-ia a transmissão da língua e talvez a fusão de ideais. Depois, lá estariam os jesuítas para orientar o movimento e exercer aquela maravilhosa função de árbitros, que é um dos mais fortes aspectos da sua actividade no Brasil." (cf. LEITE, pp. 71-72) De facto, as crianças órfãs recebidas nos colégios fundados por D. João III, tinham muitas vezes como destino a missionação no ultramar português, principalmente para o Brasil, onde viriam a desempenhar um papel fundamental nos primeiros anos do trabalho da Companhia de Jesus naquele território vasto e ainda por explorar. Assim, em 1550, um ano após a fundação do primeiro colégio, são enviados para o Brasil sete meninos órfãos que se iriam juntar à missão chefiada pelo Pe. Manuel da Nóbrega. Foi tal o sucesso que um ano depois é enviado um grupo de nove para a Índia e em 1553 mais três para o Congo. Em 1557 foram mais 18 ou 20 para o Brasil. O manuscrito tem um total de vinte capítulos e mais o traslado de doze documentos. Os capítulos que tratam da história da fundação e primeiros anos do Colégio dos Meninos Órfãos de Lisboa são os seguintes: 1. do dia q elRey nosso suor mandou dar as casas de lisboa aos orfãos; 2. dos primeiros sete moços q entrarão nesta casa q foram os liceses dela; 3. dos primeiros seis moços q farão desta casa mandados ao brasil para ensinar a doutrina christãa aos meninos gemtios; 4. de huns moços q tomamos na ribeira; 5. de outros dous meninos q mandarão ao brasil; 6. da vinda delRey a esta casa; 7. dos dez meninos q se mudarão a India por mandado delRey N.S. para ensinar os gentios e facer colégios de meninos; 8. do q os meninos alguns tem representado diante delRey nosso S.; 9. da primeira missa que se disse na Igreja desta casa e de alguns cousas q se Representarão nela; 10. de alguns romarias que os meninos tem feytas de que se tem feito muito grande serviço a nosso S.; 11. da segunda romaria q foi a nosa snra da merciana; 12. da terceira romaria q foi a nossa snra datalaia; 13. da quarta romaria q foi a nosa snra de nazaret; 14. de outra romaria q se fez a nosa snra datalaia; 15. de algum fruito notável q o snor tem ordenado fazeres por estes meninos quando os mandavam fora; 16. da fundação da casa de coimbra; 17. da fundação da casa de portalegre; 18. da fundação da casa da villa de tomar; 19. da fundação da casa do algarve; 20. da fundação da casa de setuval. Quanto aos documentos são os seguintes: 1. primeira burla concedida sobre a fundação desta casa; 2. segunda burla q os confrades ausentes posso ganhar os perdoes nas igrejas onde se acharem; 3. da terceira burla para q todas as casas dos meninos feitas e que se fizerem nos Reinos e Senhorios de Portugal tenham os mesmo privilégios q tem a casa de lisboa; 4. quarta burla para os meninos orfãos poderem tomar ordem em qualquer bispado omde se acharem […]; 5. Estatutos e ordenação da confraria do menino Jesu; 6. alvará delirei nosso senhor para o governador de lisboa mandar prender os moços q lhe forem apontados por pelo domenico; 7. outro alvará delRey nosso senhor em q concede licença aos meninos para poderem pedir por si ou por seus memposteiros no arcebispado de lxa e bispado de coimbra; 8. do ser bispo de lxa para os meninos orfãos poderem pedir na cidade e arcebispado; 9. Doutrina christãa q des ensina aos meninos orfãos desta casa; 10. Ordenações da casa q se hão de guardar em receber os meninos e ensino deles e regras dos oficiais com repartimento do tempo; 11. sua carta dos meninos brasis feita ao padre pelo domenico em q relata muitas cousas particulares feytas nos gentios a honra e gloria de nosso s.or Jesu Xpo; 12. sua cantiga devota do brasil pera os meninos de Lisboa. Terminamos com um pequeno apontamento biográfico do Padre Pero Doménech. Abade do Mosteiro de N. Senhora de Villabeltran dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, natural da Catalunha, esteve alguns anos em Roma na embaixada portuguesa ao serviço de D. João III. Em 1542 vem a Lisboa informar sobre os negócios da cúria romana trazendo consigo uma carta de recomendação do Pe. Inácio de Loiola para o Pe. Simão Rodrigues. Parece que acabou por receber os votos da Companhia de Jesus, permanecendo em Portugal até 1553. Nesse ano saiu de Portugal, chegando a Barcelona a 8 de Julho desse ano, retirando-se para o seu mosteiro de Villbertran onde morreu a 1 de Novembro de 1560. bib: LEITE, Serafim, Páginas de História do Brasil, Rio de Janeiro, 1937, pp. 71-80; RODRIGUES, Francisco, História da Companhia de Jesus na Assistência em Portugal, Porto, 1931, t.1, v.1, pp. 700ss.
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