Arte, Livros, Fotografia, Manuscritos & Efémera
quarta-feira, 24 de março de 2010 às 21:30 UTC
Lote 615:
[MANUSCRITOS] LIMA (Manuel de)
CORRESPONDÊNCIA trocada entre Manuel de Lima e Eduardo Libório, 68 cartas e bilhetes postais datados entre 11 de Fevereiro de 1943 a 7 de Fevereiro de 1946, algumas não datadas, todas assinadas por ambos os remetentes.
MUITO INTERESSANTE e raro conjunto de correspondência trocada entre um dos maiores nomes do surrealismo português e um seu amigo, prof. do Conservatório em Coimbra, durante o período que antecede a adesão de Manuel de Lima ao movimento surrealista. As 68 cartas (34 de Manuel de Lima para Eduardo Libório e 34 de Eduardo Libório para Manuel de Lima) revelam uma extraordinária intimidade e amizade profundas e são constantes as referências literárias e da vida pessoal de Manuel de Lima, mesmo nas cartas de Eduardo Libório que centrava toda a sua atenção no seu amigo. Assim, podemos ler confidências de desolação – «Pessoas que antigamente não me ligavam nenhuma, tratam-me agora com a maior deferência. Em compensação os meus amigos não têm a mesma convicção em mim, que tinham até aqui. Tu sabes perfeitamente o que quero dizer. Tenho saudades do tempo em que eu era o “idiota”», carta do Funchal, 11.2.1943; «Para dizer a verdade nuna acreditei e cada vez mais duvido das pessoas que me rodeiam. Andam todos neste mundo para se governar. Saltam por cima de tudo com uma agilidade assombrosa.», 15.1.1945; « Estou desejando abraçar-te e cheio das maiores saudades. Por cá paira uma insipidês horrenda. Ninguém se salva. Há uma imbecilidade comunicativa […] que constrange. As pessoas dividiram-se em tertúlias onde fecham hermeticamente a estupidez como se nós pretendessemos surpreendê-las […]», Lisboa, 1.9.1945 -; apreciações de teatro e música – «A Severa do Dantas tem dado pano para mangas. Já estou farto de assistir todos os dias a um espectáculo tão inferior.», 10.4.1945 -; ou considerações sobre projectos e ambições literárias suas – «Saí agora da editorial Minerva, e trago boas notícias. Dentro de oito dias o livro vai entrar no prelo. Sairá com um pseudónimo. […] Manuel Rodrigues para exemplificar e ao mesmo tempo estudar a questão gráfica acabava de escrever o nome imaginário de Vasco Pombal […]», Lisboa, 19.10.1945, pseudónimo que nunca chegou a utilizar e livro que nunca chegou a publicar.
Um acervo extraordinário e de grande valor para o conhecimento de uma das personalidades mais eminentes do Surrealismo português que teve um “papel importante na prosa surrealizante (e por que não surrealista?) portuguesa, valendo-se sobretudo do humor (e das suas múltiplas facetas) para impossibilitar qualquer abordagem realista.” (Fátima Marinho, O Surrealismo em Portugal, pp. 176-177).
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