Na minha vida de livreiro e leiloeiro, por vezes acontecem coisas espantosas e surpreendentes. Muito raramente acontecem coisas únicas, possivelmente irrepetíveis.
Quando comecei a trabalhar neste lote, fi-lo com o mesmo zelo com que encaro todos os lotes que coloco em leilão, seja com base de licitação de 5€ ou de 5000€. Comecei, como sempre faço em títulos impressos até ao século XVIII, por colaccionar o exemplar.
É um exemplar desencadernado, com as duas partes provenientes de dois exemplares diferentes e, percebi quase de imediato, com falhas. Continuei, com o mesmo zelo, mas com pouco entusiasmo.
Mas o livros têm destas coisas. Por vezes, quando tudo leva a querer que vai ser um dia normal, eis que viro a página 177 e, na oposta, está o número 179.
Não podia ser… Parei e abri a bibliografia…
Voltei ao exemplar para confirmar ainda incrédulo.
Confirmado. O exemplar possuía mesmo um dos 10 cadernos que se salvaram da censura inquisitorial com as páginas 179 a 185 onde o Pe. Simão de Vasconcelos defende que o Paraíso havia de ficar por terras brasileiras.
Para o livreiro e leiloeiro, o Paraíso, por momentos, foi mesmo à sua secretária em Azeitão.





