A Nova Escola de Manuel de Andrade de Figueiredo (1722)

Na história do livro antigo, certas obras não só documentam o passado, mas também moldam o futuro. A NOVA Escola para Aprender a Ler, Escrever, e Contar, publicada em Lisboa em 1722 por Manuel de Andrade de Figueiredo, é um desses exemplares raros. Esta obra, que recentemente passou pela Ecléctica, destaca-se como um marco na pedagogia e na normalização da língua portuguesa no século XVIII.

Figueiredo, mestre calígrafo e reformador do ensino, criou um manual inovador que não apenas sistematizava a aprendizagem da leitura e da escrita, mas também estabelecia padrões ortográficos fundamentais. Numa época em que a padronização do português ainda estava em construção, a Nova Escola oferecia uma abordagem estruturada e racional para a educação, alinhando-se com o espírito das reformas ilustradas que viriam a transformar o ensino em Portugal.

O exemplar que tivemos o privilégio de apresentar na Ecléctica é testemunho do valor histórico e pedagógico desta obra. Não é apenas um manual didático, mas um documento que reflete as mudanças culturais e intelectuais do seu tempo. As marcas do uso e da passagem do tempo, sempre presentes nos livros antigos, apenas acrescentam camadas de história e autenticidade a esta edição.

A Nova Escola de Figueiredo não é apenas um vestígio do passado, mas um contributo essencial para a compreensão da evolução do ensino e da ortografia em Portugal. Ao passar pela Ecléctica, reforça-se a importância de preservar e celebrar estes testemunhos da nossa memória coletiva.

Os Livros em Concertina no Japão e o ‘Conto de Genji’

A história dos livros japoneses em concertina, conhecidos como orihon, remonta ao período Heian (794–1185) e reflete a engenhosidade e a estética singulares da cultura nipónica. Diferente do formato codex, comum no Ocidente, o orihon é composto por longos rolos de papel dobrados em forma de acordeão, permitindo uma leitura contínua e fluida. Este formato era amplamente utilizado para textos budistas e literários, combinando funcionalidade e arte, já que frequentemente era adornado com ilustrações elaboradas e caligrafia meticulosa.

Um dos mais icónicos exemplos da literatura japonesa, o Genji Monogatari (O Conto de Genji), está intimamente ligado ao período Heian e à tradição do orihon. Escrito por Murasaki Shikibu, uma dama da corte, este romance é amplamente considerado o primeiro romance psicológico da história e um marco na literatura mundial. A narrativa acompanha a vida do Príncipe Genji, explorando temas de amor, perda e as complexidades das relações humanas, num estilo lírico e introspectivo.

As edições antigas do O Conto de Genji foram muitas vezes transcritas no formato orihon, especialmente aquelas destinadas às elites da corte. Estas edições eram verdadeiras obras de arte, com papel tingido em tons delicados, ilustrações pintadas à mão e uma encadernação que aliava simplicidade e requinte. O formato orihon permitia que o leitor experienciasse a história quase como um fluxo contínuo, mergulhando na narrativa sem interrupções.

Para além do orihon, O Conto de Genji influenciou outros formatos de livro no Japão, como o nara-ehon, que combinava ilustrações vívidas com texto. A disseminação desta obra ao longo dos séculos ajudou a moldar a tradição literária e artística do Japão, transformando-a num símbolo da riqueza cultural do país.

Hoje, os exemplares antigos de orihon e as edições históricas de O Conto de Genji são tesouros preservados em museus e colecções particulares, servindo como testemunho do refinamento cultural do Japão medieval. Para coleccionadores e apaixonados por livros antigos, explorar estas peças é como abrir uma janela para um mundo onde literatura, arte e espiritualidade se entrelaçam de forma sublime.

Passou na Ecléctica – A Revista KWY e a Arte Portuguesa em Paris

No mundo da arte portuguesa do século XX, poucas publicações foram tão inovadoras e influentes como a revista KWY. Editada entre 1958 e 1963 em Paris por Lourdes Castro e René Bèrtholo, esta revista foi mais do que um simples periódico: tornou-se o epicentro de um coletivo artístico que desafiava convenções e refletia a modernidade europeia.

A própria sigla KWY, escolhida pelos fundadores, brincava com a ausência das letras “K”, “W” e “Y” no alfabeto português, simbolizando a abertura a novas linguagens e horizontes estéticos. Para além dos seus editores, em torno da publicação gravitavam artistas como José Escada, Gonçalo Duarte, João Vieira, Costa Pinheiro, Jan Voss e Christo, nomes que viriam a deixar uma marca indelével na arte contemporânea.

A revista, impressa em serigrafia, tinha um caráter artesanal e experimental, variando em formatos ao longo dos seus 12 números. Nas suas páginas, encontramos desde colaborações gráficas de Vieira da Silva, Arpad Szenes, Peter Saul e Corneille, até poemas de Herberto Helder, Mário Cesariny e António Ramos Rosa. Além de ser um espaço para a expressão plástica, a KWY abriu-se à poesia e à crítica de arte, tornando-se um registo raro e precioso do diálogo entre artes visuais e literatura.

O grupo KWY realizou exposições em cidades como Lisboa, Paris e Bolonha, e a revista, inicialmente de circulação restrita, passou a ser vendida em galerias e livrarias de centros culturais tão diversos como Nova Iorque, Tóquio, São Paulo e Viena. Com a sua abordagem única e um design que rompia com os padrões editoriais tradicionais, a KWY tornou-se um marco da vanguarda artística europeia.

A sua raridade e importância tornaram-na num dos itens mais cobiçados no mercado de arte e colecionismo, sendo um dos poucos exemplos de uma publicação de arte portuguesa que alcançou verdadeiro reconhecimento internacional. Ter passado um exemplar completo pela Ecléctica reforça o nosso compromisso com a preservação e valorização do património artístico e bibliográfico.