Pouco se sabe sobre a vida de António Tenreiro, além do que escreveram Diogo do Couto e Gaspar Correia. Segundo o autor das Décadas, Tenreiro era natural de Coimbra, tendo acompanhado a comitiva do embaixador Baltasar Pessoa ao rei da Pérsia. Por vontade própria afastou-se da embaixada e dirigiu-se a Jerusalém, acabando preso no Cairo. Solto, decide regressar à Índia, lugar a que também não chegou, detendo-se em Ormuz, segundo ele próprio, por cinco ou seis anos.
Havendo notícias para fazer chegar a D. João III o mais rapidamente possível, o governador Lopo Vaz de Sampaio e o capitão da fortaleza de Ormuz, Cristóvão de Mendonça, procuraram alguém adequado para a empresa. Como alerta Luís de Albuquerque, o caminho mais rápido para então se chegar a Portugal era o terrestre, não o marítimo, “embora fosse também, certamente, a mais eriçada de ciladas e incertezas” (Albuquerque, p. 42). António Tenreiro reunia o conjunto de qualidades necessárias – falava árabe, conhecia os costumes daqueles povos – e, mediante algumas condições impostas, aceitou partir para Portugal, onde chegou ao fim de três meses.

Esta viagem de Tenreiro constitui a primeira em que se realizou o troço mais difícil da viagem da Índia a Portugal por terra, sem ser integrado numa caravana, mas apenas por um guia e que apenas o seguiu durante a travessia do deserto.
Chegado a Portugal, alcançou grande reconhecimento por parte de D. João III, tendo-lhe concedido mercês e o hábito de Cristo.
A descrição da sua viagem é feita com grande cuidado e detalhe. Além das informações sobre as cidades e vilas que visitou e os costumes das gentes, possui outros pontos de interesse como breves apontamentos breves sobre a vida das cáfilas quando atravessavam as zonas desérticas, entre outros.
As duas primeiras edições, como se descreve em baixo, são de 1560 e 1565, seguindo-se edições no século XVIII integrado nas edições daquele século das Peregrinações de Fernão Mendes Pinto. Mais recentemente, António Baião, em 1953 publica uma edição com alguns documentos relativos à vida do viajante.
Edições
- Itinerário de António Tenreyro Cavaleyro da ordem de Christo, em que se contem como da India veio por terra a estes Reynos de Portugal. Coimbra: Em Casa de António de Maris, 1560.
- Itinerário De António Tenrreyro, que da India veyo por terra a este Reyno de Portugal. Em que se conte[m] a viagem & jornada q. fez no dito caminho, & outras muitas terras & cidades, onde esteve antes de fazer esta jornada, & os trabalhos q. em esta pelegrinação pasou. Em Coimbra: Por João Barreira, 1565.
- PINTO, Fernão Mendes. Peregrinação de Fernaõ Mendes Pinto E por elee escrita: que consta de muitas, e muy estranhas cousas, que vio, e ouvio no Reyno da China, no da Tartaria, no de Pegú, no de Martavaõ, e em outros muitos Reynos, e Senhorios das partes Orientaes. E tambem dá conta de muitos casos particulares, que aconteceraõ assim a elle, como a outras muitas pessoas; e no fim della trata brevemente de alguas noticias, e da morte do Santo Padre Mestre Francisco Xavier […]. E agora novamente correcta, e emendada. Accrescentada com o Itenerario de Antonio Tenreiro […] e a Conquista do Reyno de Pegú feita pelos Portuguezes no anno de 1601, sendo Vi-Rey da India Ayres de Saldanha. Lisboa: Officina Ferreiriana, 1725.
- PINTO, Fernão Mendes. PEREGRINAÇAÕ de Fernaõ Mendes Pinto E por elee escrita: que consta de muitas, e muy estranhas cousas, que vio, e ouvio no Reyno da China, no da Tartaria, no de Pegú, no de Martavaõ, e em outros muitos Reynos, e Senhorios das partes Orientaes. E tambem dá conta de muitos casos particulares, que aconteceraõ assim a elle, como a outras muitas pessoas; e no fim della trata brevemente de alguas noticias, e da morte do Santo Padre Mestre Francisco Xavier […]. E agora novamente correcta, e emendada. Accrescentada com o Itenerario de Antonio Tenreiro […] e a Conquista do Reyno de Pegú feita pelos Portuguezes no anno de 1601, sendo Vi-Rey da India Ayres de Saldanha. Lisboa: Officina João de Aquino Bolhões, 1762.
- PINTO, Fernão Mendes. Peregrinação de Fernão Mendez Pinto. Nova edição conforme a primeira de 1614. Lisboa: Na Typographia Rollandiana, 1829.
- ITINERÁRIOS da Índia a Portugal por Terra. Revistos e prefaciados por António Baião, Director do Arquivo da Torre do Tombo e sócio efectivo das Sciências de Lisboa. I. Itinerário de António Tenreiro, Sexta Edição, Conforme a Segunda, de 1565. II. Itinerário de Mestre Afonso, Reedição conforme o manuscrito da Torre do Tombo. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1923.
- [e 8.] Itinerário em que se Contém como da Índia veio por terra a estes Reinos de Portugal António Guerreiro / Recolha de Luíza Lemos. Lisboa: Editorial Estampa, 1971 e 1980.
- Viagens por terra da India a Portugal, Tenreiro e Mestre Afonso. Lisboa: Publicações Europa América, 1991.
- Itinerário da Índia por Terra a Este Reino de Portugal / ed. Rui Manuel Loureiro. Portimão : Livros de Bordo, 2020
Bibliografia
Inocêncio, v. 1, 281; v.8, 314; Barbosa, v1, p.407; D. Manuel, 97; GRAÇA, Luís, A Visão do Oriente na Literatura Portuguesa de Viagens: Os Viajantes Portugueses e os Itinerários Terrestres (1560-1670). Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda, 1983; ALBUQUERQUE, Luís de, «António Tenreiro, O Fascínio da Viagem por Terra» in Navegadores, Viajantes e Aventureiros Portugueses, Sécs XV e XVI. Lisboa: Círculo de Leitores, 1987, v.2, pp.42-52.