Há duas semanas ficou a saber que o Nuno começou a trabalhar nesta coisa estranha que são os livros antigos com apenas 17 anos. Esta semana, saiba como o Pai o enganou, bem enganado.
No ano de 1992, há quase 30 anos, portanto, o Pai do Nuno, o Sr. Alfredo Gonçalves arrendou o espaço onde ainda hoje funciona a sua livraria. Em Junho, logo depois do final do ano lectivo, o Nuno começou a ajudar o Pai. A loja inaugurou-se em Outubro desse mesmo ano.
Os livros sempre fascinaram o Nuno, mais ainda aquele cheiro e texturas características de livros cuja história vai para além do seu conteúdo. Quando a loja abriu, o contacto com as pessoas que padecem do mesmo mal, o gosto pelos livros e pela leitura, deixaram-no ainda mais fascinado. E ainda mais quando abriu pela primeira vez o catálogo da Biblioteca dos Condes de Azevedo e Samodães, o catálogo da Biblioteca de El-Rei D. Manuel II ou aquele enorme legado, único no mundo, que é o Dicionário Bibliográfico de Inocêncio.
Com muitos anos disto, o Sr. Gonçalves Pai lá foi atirando umas tarefas ligeiras e prazenteiras para o Nuno fazer. E o Nuno, na sua inocência dos 17, deixou-se embrenhar no métier que até hoje, quase trinta anos depois, continua a amar.
O que o Sr. Gonçalves se esqueceu de deixar bem claro ao Nuno, é que livros são madeira em formato portátil, e que, se um pesa 1 Kg, 1000 hão-de pesar uma tonelada, e 30 ou 40 numa caixa, serão 40 ou 50Kg de peso para
carregar para o automóvel, descarregar para a loja e depois carregar de novo para uma das estantes.
Ainda hoje, passado todos este tempo, o Nuno, a cada saco ou caixa que tem de carregar, não consegue deixar de conjurar contra seu Pai que lhe dizia: “Vem para os livros, que é só cultura e pessoas interessantes”, omitindo propositadamente que com os livros vem a
estiva, e
pesada…