De Como um Livro Chega ao Leilão

Na semana passada percebeu de como o Nuno foi enganado pelo Pai e dedicou toda a sua vida aos livros antigos. Conheça agora a peregrinação que o livro faz numa venda em leilão.

Quando somos contactados para vender uma biblioteca ou um pequeno lote para leilão, a primeira fase é, claro, uma avaliação sobre o interesse dos mesmos para os nossos clientes.

Para nós, o critério de selecção centra-se em ajudá-lo a si a enriquecer a sua biblioteca. Trata-se, portanto, de um critério qualitativo e não quantitativo. É por essa razão que na Ecléctica Leilões raramente encontra lotes com três ou quatro títulos. Para nós, cada livro ou folheto tem um lugar próprio por direito, a sua biblioteca.

Seleccionados, chegados a acordo sobre as nossas comissões, feito o inventário sumário de cada título entregue, os livros entram para a fase de organização, agrupando-se em conjuntos que formarão os leilões. Nem sempre é possível, mas esforçamo-nos para que cada leilão tenha alguma coerência e unidade, seja pela temática, seja pela proveniência.

Cada título entra então na fase de catalogação, a mais demorada, complexa e que requer maiores cuidados. Cada livro é verificado e descrito conforme as Regras Portuguesas de Catalogação, com ligeiras adaptações, dando especial atenção à descrição do estado de conservação do exemplar e pelas quais a Ecléctica, em particular o Nuno, se responsabiliza por cada palavra usada. Este processo consome entre 15 minutos, para os títulos mais simples, a várias horas para livros importantes e complexos.

Depois de descrito, cada livro vai para o estúdio para ser fotografado e, finalmente, é carregado no nosso site para que possa licitar com segurança e assim enriquecer a sua fantástica Biblioteca.

De como o Nuno foi enganado pelo Pai

Há duas semanas ficou a saber que o Nuno começou a trabalhar nesta coisa estranha que são os 📚 livros antigos com apenas 17 anos. Esta semana, saiba como o Pai o enganou, bem enganado.

No ano de 1992, há quase 30 anos, portanto, o Pai do Nuno, o Sr. Alfredo Gonçalves arrendou o espaço onde ainda hoje funciona a sua livraria. Em Junho, logo depois do final do ano lectivo, o Nuno começou a ajudar o Pai. A loja inaugurou-se em Outubro desse mesmo ano.

Os 📖 livros sempre fascinaram o Nuno, mais ainda aquele cheiro e texturas características de livros cuja história vai para além do seu conteúdo. Quando a loja abriu, o contacto com as pessoas que padecem do mesmo mal, o gosto pelos livros e pela leitura, deixaram-no ainda mais fascinado. E ainda mais quando abriu pela primeira vez o catálogo da Biblioteca dos Condes de Azevedo e Samodães, o catálogo da Biblioteca de El-Rei D. Manuel II ou aquele enorme legado, único no mundo, que é o Dicionário Bibliográfico de Inocêncio.

Com muitos anos disto, o Sr. Gonçalves Pai lá foi atirando umas tarefas ligeiras e prazenteiras para o Nuno fazer. E o Nuno, na sua inocência dos 17, deixou-se embrenhar no métier que até hoje, quase trinta anos depois, continua a amar.

O que o Sr. Gonçalves se esqueceu de deixar bem claro ao Nuno, é que 📚 livros são madeira em formato portátil, e que, se um pesa 1 Kg, 1000 hão-de pesar uma tonelada, e 30 ou 40 numa caixa, serão 40 ou 50Kg de peso para 🚛 carregar para o automóvel, descarregar para a loja e depois carregar de novo para uma das estantes.

Ainda hoje, passado todos este tempo, o Nuno, a cada 📦 saco ou caixa que tem de carregar, não consegue deixar de conjurar contra seu Pai que lhe dizia: “Vem para os livros, que é só cultura e pessoas interessantes”, omitindo propositadamente que com os livros vem a ⛏ estiva, e 💪 pesada…

E o Nuno, conhece?

Nasceu com 📚 livros em casa pela mão de seu Pai. Gosta de 🎼 música, que estudou um pouco, mas que abandonou quando, no 8.º ano, os pais viram a pauta atonal com que os professores do Liceu o brindaram no Natal daquele ano.

Mesmo não tendo regressado ao seu estudo, a música nunca o deixou. Não se considera um melómano. Simplesmente ouve-a, sem ordem ou método, e deleita-se. Com excepção do hip-hop, seus derivados e de Bob Dylan, que, por razões diferentes, não consegue escutar sem alguma dor, tem autores favoritos em (quase) todos os estilos, mas acaba sempre no 🎷 Jazz e na chamada 🎻 Clássica.

Recentemente descobriu uma nova paixão, o 🍸 cocktail. Misturar espirituosos e licores para exaltar o que de melhor cada um tem, passou a fazer parte do seu vocabulário. Diverte-se imenso a compor os cocktails e a oferecê-los aos seus 🥂 amigos e familiares quando o visitam.

No entanto, tem tido algumas tristezas, porque se farta de pedir 💰 verba à Ministra das Finanças, que chumba os projectos de compra de uma ou duas pequenas 🍾 garrafinhas necessárias para uma Margarita, um Old Fashioned ou um Vesper. Se alguém, quando escrever à Catarina para tratar de algum assunto, puder interceder pelo Nuno com uma ou duas palavras, ele agradecerá com um Espresso Martini, John Collins ou Irish Coffee.

Começou com isto dos 📚 livros nos idos de 1992, tinha apenas 17 anitos e apaixonou-se pelos verbetes dos irmãos Santos e pela Biblioteca d’El-Rei D. Manuel II. Cerca de 10 anos depois, organizou o seu primeiro leilão e desde essa data não mais largou o encanto dessa forma de apresentar para venda os livros antigos. Insiste, teimosamente, em ser rigoroso e claro nas descrições do estado dos exemplares e a colaccionar os espécimes mais antigos.

Finalmente, não há uma palavra que o defina, há uma pessoa e ela é a Catarina, com quem começou a namorar no dia 11 de Abril de 1994, com quem casou no dia 25 de Março de 2000 e com quem teve três rapazes. Foi ela que o tornou no que é hoje e ele agradecer-lhe-à sempre com uma🧉 Piña Colada.

PS: Não lhe escrevam ou telefonem. Liguem à Catarina, é mais seguro e eficaz.